quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A Língua Dentro do Prepúcio


Era o começo do século 21.  Não fazia muito tempo que eu tinha computador em casa, com a infernalmente lenta e ruidosa internet discada. Foi, e é até hoje, 20 anos depois, uma revolução nos costumes e relações, na forma de se conhecer alguém. Para a comunidade LGBTQIA+ essa revolução foi ainda mais profunda. O que antes era apenas solidão, dúvida, sentimentos de inadequação, agora abria-se em inúmeras possibilidades de encontro, identificação e pertencimento. Era o chat do UOL, o Orkut, o MSN Messenger, ferramentas que aproximavam pessoas de uma forma muito nova. Por vezes bastante questionável, mas inegavelmente transformadora. Foi numa dessas que eu conheci um cara bastante simpático. Eu ria muito com as sacanagens que ele dizia. Era um pouco mais velho que eu, devia ter por volta de 30 anos, se dizia loiro, estatura mediana, boa aparência, fazia academia. Não lembro sua profissão, nem o nome, pois logo perdemos contato. Tenho quase certeza de que seu nome começava com a letra L. Vou chamá-lo L. Pois ele me disse que conhecia um lugar incrível, que eu deveria conhecer. Um bar de nudismo gay em plena Vila Mariana. Fiquei meio abestalhado, era uma realidade muito distante da minha de então. L parecia obstinado em me levar até o RG31 Bar. Fiquei bastante cismado com sua insistência, paranóico que sou. Mandou o link do site e fui ficando curioso. Ele dizia que havia uma festa semanal (ou era mensal? Não lembro) que reunia cerca de 200 caras pelados, usando apenas calçados e máscara. E dizia que aparecia muitos caras bonitos por lá. O site era feio mas interessante, lembro que tinha um texto muito engraçado que ditava as regras de convivência no bar, abordando desde o dress code até a chuca, passando por drogas e anonimato. Fui ficando muito tentado a aceitar o convite dele pra irmos lá numa sexta-feira. Abria no início da noite e fechava cedo. L disse que era pra usar meias para ter onde guardar camisinha, pois o calçado era a única coisa que não se tirava por lá. Parecia um sonho confuso, mas era real, agora eu tinha esse encontro marcado. Ia conhecer alguém da internet pela primeira vez na vida e iríamos a esse lugar totalmente inusitado e radical. A ansiedade e o medo eram tão grandes que eu mal dormi nas noites anteriores. Combinamos de nos encontrarmos ali perto (RG31 é referência ao próprio endereço do estabelecimento, rua Rio Grande, 31). Ele estaria vestindo uma camisa verde e eu, uma camiseta preta que eu adorava. Quase desisti no caminho várias vezes. Nosso encontro foi algo constrangedor e eu estava morrendo de medo de subir as escadas do bar. L era simpático, mas não fazia o meu tipo, e ele certamente também não morreu de amores por mim. Os donos do bar eram um casal, um cara mais velho e o outro bem gato, envolvido com cinema pornô.  O local era simples mas aceitável. Subindo a escadaria, havia uma porta, sempre fechada, que dava no bar. Um balcão e alguns bancos encostados nas paredes. Ao lado era a sala onde te levavam pra se despir e deixar tudo num saco preto com sua identificação. Dependendo do tamanho do seu pau, você ganhava um desconto (fiquei satisfeito com o meu). Agora que estou lembrando que você fazia um cadastro pelo site e mandava uma foto para ser aprovado. Sistema um tanto excludente. Atravessando o bar, havia um hall de distribuição: dava nos banheiros e duas escadas. A escada que subia, dava numa sala com uma grande cama; e a que descia, para um espaço um pouco maior com alguns aparatos sexuais, tipo aquelas cadeiras esdrúxulas de motel, um balanço etc. Quando chegamos havia pouca gente. No início era estranho e libertador andar nu em meio a desconhecidos, mas o clima da casa me tranquilizou bastante, não era o bicho de sete cabeças que se poderia supor. Todos os cômodos eram bem iluminados, limpos, e a máscara (preta, de plástico, que cobria o nariz e a parte superior do rosto, algo entre Batman e Tiazinha) contribuía com esse conforto. Em algumas dessas festas, eles contratavam um recepcionista ma-ra-vi-lho-so. Era um modelo que saiu na G Magazine e fez alguns filmes pornô chamado Tamas. Eu era fissurado nele e notava que ele me olhava bastante e com bastante, digamos, simpatia. Era um galalau bem alto, de cabeça completamente raspada, corpo musculoso na medida certa e desmedidamente tatuado. Rosto lindo, sorriso sexy, gostoso até dizer chega. Lembro de uma vez que ele estava atendendo no bar e fui comprar um suco. Lambi a latinha toda só por ter sido tocada por ele. Aliás, se os donos eram os únicos que permaneciam vestidos no recinto, o barman usual era outro gostoso, também ator pornô e já meio coroa, que nos atendia peladão, balangando uma jeba descomunal quando andava. Lá pelas tantas, a casa foi lotando mesmo, e a promessa de vários caras altamente apetecíveis se cumpria com louvor. Imagine uma casa de no máximo 150m² com 200 homens pelados de máscara. Era isso. Impossível evitar o contato. Era necessário um grande desprendimento para estar ali, o império da mão boba. Deslocar-se de um cômodo para outro era roçar o corpo todo por dezenas de outros corpos, diferentes texturas de pele, pêlos, músculos, gorduras, temperaturas, odores, suores etc. Podia ser adorável ou torturante. E a suruba rolava solta pra onde quer que se olhasse. Você podia chegar perto, olhar, tocar, participar. L era conhecido por lá. Um cara divertido e safado. Lembro de um cara bonitinho que ficava sentado num sofá, sem máscara, com um pau descomunal e todo mundo ia chupar. Fomos, L e eu, juntos, degustá-lo. Era enorme, branquinho de cabeça rosinha e com um prepúcio comprido, que a gente metia a língua dentro. Ficamos um bom tempo chupando o carinha e falando merda, demos muita risada. Lembro muito bem também do Marcelo. Um cara lindíssimo que apareceu por lá. Alto, corpo lindo, bronzeado, cara de moço de família, olhos verdes bem claros, uma barbinha por fazer. Fiquei imediatamente derretido e só queria saber dele. Felizmente, ele correspondia, me beijava, a gente se chupava e eu ia à loucura. Lembro de estar sentado batendo papo com o L e o Marcelo chegar com um amigo. Eu o puxei pra perto de mim e fiquei chupando o pau dele, L assumiu a rola do amigo, e continuamos conversando. E num momento em que nos vimos sozinhos no andar superior, já no fim da festa, e fizemos um 69, ele finalmente me deixou lamber o seu cuzinho enquanto chupava meu pau. Falei pro L que toda vez que encontrava esse Marcelo, meu pau ficava duro, que queria pedir o número dele. L me desestimulou, disse que ele "não tinha cara de alguém que fosse dar o telefone pra um desconhecido", e concordei. Voltei muitas outras vezes ao RG31, em festas ou dias comuns. Lembro muito de um cara de Ribeirão Preto, um cara baixinho e gato de uns 35 anos, uma bundinha peluda que deu trabalho pra conseguir lamber, mas depois que ele relaxou e curtiu, chupei ao lado do bar, sob os olhos sedentos do dono bonitão. E também de um altão loiro de pau grande que me deixou maluco. Nas festas tinha um cara também bem alto, esse moreno, muito bonito, que eu era louco pra lamber o cuzinho e meter o dedo. Ele encostava na parede e virava o cuzinho pra mim. Só não deixava meter dois dedos, ficava puto quando eu tentava. Uma vez ele estava ajoelhado chupando o pau de um cara, e eu deitei no chão pra chupar o cu dele. Logo veio gente por cima pra me chupar. Era esse o esquema, múltiplos estímulos o tempo todo. Pra mim, era o lugar mais incrível de SP na época, onde eu realizava muitas fantasias e encontrava os caras mais gostosos (não existia a 269 ainda). Fiz dupla penetração num cara. Vi uma fila de garotos fodendo a bunda de um gostoso que ficava de quatro esperando o que viesse. Dei pra um carinha bem interessante na frente de todo mundo. Beijei o dono bonitão. Me joguei num bololô de homens pelados e chupei vários paus e cus. Depois eles mudaram pro endereço vizinho, número 33 ou 35, mas era ruim o espaço, a frequência ficou ruim, e parei de ir há muitos anos. Mas não consigo estar na vila Mariana sem que passe na minha cabeça a tentação de ir até lá.