domingo, 5 de julho de 2020

Resfolegantes

Outra história da lendária sauna 269, que funcionou em plena Bela Cintra por alguns anos. A vizinhança, totalmente residencial, tratou de comprar o espaço para construir um prédio. Era um lugar como nunca se tinha visto em SP, no Brasil. Imensa, com boa estrutura, moderna e cheia de homem bonito. Eu era assíduo. Tinha trinta e poucos anos, no auge da forma física, com alguma estabilidade financeira e a libido bombando. 
Eu estava, como de costume, numa carência braba, mas a tarde tinha sido fraca, chovia e não tinha gente muito interessante ali. O Fábio, que já apareceu em algumas histórias aqui, passou desfilando de mãos dadas com um garoto lindo pela área dos chuveiros. Parecia um príncipe o menino, e eu tinha a impressão de conhecê-lo, sem conseguir lembrar de onde.
Estatura mais para baixa, corpo perfeito, mais para magro, mas tudo muito proporcional e harmonioso. O rosto parecida desenhado a bico de pena. Cada traço minuciosamente encaixado na métrica da perfeição. Pele clarinha, cabelos escuros cacheados, de comprimento médio, olhos muito azuis, grossas sobrancelhas escuras, nariz meio arrebitado e a boca mais linda que se pode imaginar. Fiquei encantado e cismado com a impressão tão nítida de já ter visto toda aquela beleza e não lembrar de onde. Como isso seria possível? Seria alguém muito parecido ou alguém que teve uma grande mudança na aparência?
Os dois se enfiaram na suite do Fábio e demorou para rever o garoto. Fui reencontrá-lo no andar de cima, onde ficava o labirinto.  Ainda não tinha anoitecido e a luz azulada ainda entrava pela clarabóia. Ele estava sozinho, encostado numa divisória preta de madeira (divisórias que formavam uma série de cabines do labirinto). Parecia indeciso ou inseguro. Eu também me sentia indeciso e muito inseguro diante de sua beleza. Mas ele me olhou, e no fundo do azul dos seus olhos tristes, queimava a brasa desesperada. Era hipnotizante o seu olhar, e fui me aproximando como a lebre atraída pela imóvel serpente. Toquei seu corpo delicadamente, a pele suave, o corpo delgado se aninhava no meu calor. Eu, que me tremia a princípio, fui me empoderando e controlando a situação. Gosto tanto de corpos pequenos, que meu abraço podem conter. É outra sensação, completamente diferente de um homem grande em que eu poderia me aninhar ou de alguém do mesmo tamanho. Cada tipo estabelece uma relação diferente, com suas particularidades que enriquecem essa ideia que criamos de alguém ou de nós mesmos em relação a esse alguém. Isso foi em 2008, há 12 anos, e ainda lembro do seu cheiro, do seu hálito, do seu gosto. Nos beijamos e foi muito intenso, nossos corpos se enroscavam, ele tinha os cabelos e pele ainda úmidos do banho recente. Segurei seu rosto onde a luz da clarabóia incidia e tive que dizer: Como você é lindo! Ele falou com voz baixa e frágil no meu ouvido, enquanto apertava meu pau com a mão: Quero te chupar.
Parecia tímido. Fui conduzindo seu corpo para dentro de uma das cabines. Não tinha trinco para fechar a porta e fomos para a do lado. Tiramos as toalhas e as penduramos sobre a porta. Foi, sem dúvida nenhuma, das experiências mais intensas da minha vida toda. Tudo fluía com tanta naturalidade e tesão. Meu coração batia forte, a respiração funda. Seu corpo passou inteiro pela minha boca quente. Eu metia a língua naquele cuzinho rosado, abocanhava os dedos dos seus pés, seus mamilos eriçados, seu pescoço e pau, o abdômen definido (pela yoga, soube depois), as axilas, a boca fresca. Ele me chupou até eu quase gozar. E passou meu pau naquela bundinha arrebitada. Foi sem camisinha mesmo. Fodi o cuzinho em todas as posições possíveis naquela cabine. No final, eu estava agachado com ele sentado no meu pau, de frente pra mim. Gozamos muito e juntos, num abraço, passionais.
Demorou um pouco pra recobrarmos os sentidos. Ficamos ali, abraçados, calados, suados, resfolegantes. Numa sintonia muito forte, num daqueles momentos em que um desconhecido parece fazer parte de você. Depois fomos tomar um banho e conversamos. Fomos para o bar e finalmente descobri de onde o conhecia. Ele é ator, faz TV às vezes. Mas eu o tinha visto no teatro, 7 ou 8 anos antes. Ele fazia um adolescente rebelde. Na época, estava bem mais forte, musculoso, e usava o cabelo curtinho. A peça era ótima, tinha um jogo de cena muito interessante com a cenografia, elenco jovem e afinado. Quando ele apareceu no palco, fiquei pasmo. Era tamanha a sensualidade que aquele garoto exalava, seu andar, seu jeito com o corpo, sua beleza impressionante, que fiquei vidrado. Meses pensando nele, apaixonado mesmo, bobalhão que eu era. Assisti a uma das últimas apresentações da peça, então não pude voltar. Foi chocante descobrir que era o mesmo cara com quem eu tinha acabado de transar com aquela volúpia toda. Eu disse que o vira na peça, mas não contei dessa paixonite toda, claro. Ainda menti que tinha visto uma outra peça importante que sabia que ele tinha protagonizado. Ele morava no Rio e estava em SP com um Shakespeare ao lado de uma grande estrela, um grande ator que admiro muito. Disse que estivera na 269 na véspera de natal e foi divertidíssimo. Tomamos um drink, conversamos um pouco e nos separamos. Eu queria mais. Agora que sabia quem ele era, seria ainda mais emocionante tocar seu corpo. Ele se fez de difícil, blasé. E sou orgulhoso. Voltamos ao labirinto e ficamos nos olhando de longe, como dois bestas. Ele ria às vezes. Eu deveria ter ido, dado em cima. Fiquei intimidado provavelmente. Anos depois, ele estava fazendo uma novela das 21h, um papel meio polêmico, apareceu seu perfil no Facebook e mandei uma mensagem. Disse que estava gostando do trabalho, que estive com ele anos antes. Ele disse que eu parecia conhecido, mas fiquei com vergonha de contar essa história. Recentemente o vi no Sesc Pinheiros, saindo do elevador, ainda bonito, um tanto pálido com os cabelos descoloridos para um personagem. Parecia um desconhecido completo, e é.

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