terça-feira, 4 de maio de 2021

Mr Frieza Loiro de Cueca

Sábado, 24 de abril de 2021

Talvez nunca tenha estado mais solitário na vida. Os rumos políticos do país tornaram-se tão caóticos que impactam nossas relações, nossos afetos. A pandemia descontrolada traz medo e desesperança, fanatismo e negacionismo corroem as estruturas de toda a sociedade. No último mês tenho estado absolutamente só. Abandonei meu trabalho de mais de 20 anos, deixei de falar com minha família, e nunca tive amigos próximos. Neste sábado estou de volta a SP depois de quatro meses. Apenas hoje, e não sei quando virei novamente. Fiquei num dilema pesado por alguns dias e acabei decidindo pelo risco. Pegar ônibus cheio, metrô. Subir a escadaria vermelha do Cabine's Bar. Já é noite, estou cansado de um dia de compras e tenho pouco tempo, noventa minutos, para desafogar um mar de solidão, revolta e desamparo. Felizmente não estava lotado. Sinto-me culpado o tempo todo. Por cada centavo gasto, pelo risco assumido, por não ter alternativa. Culpado por procurar homens tão solitários e miseráveis quanto eu, inseguros e absolutamente impermeáveis a qualquer possibilidade de sentimento na busca pelo sexo (dito) fácil. Há um imenso vazio e também a existência profundamente humana do corpo. A falta de sexo regular há mais de um ano vai minando minha energia. Tinha tomado um Cialis depois de anos tomando Viagra. Não senti quase nenhum efeito. Havia uns caras interessantes. Nenhum que fosse especialmente bonito inicialmente, mas alguns que eu desejava tocar, por quem desejava ser desejado. Entrei na cabine com glory hole duas vezes, mas nada aconteceu. O primeiro de quem me aproximei foi no dark room maior. Não o tendo visto no claro, não sei quem é esse homem parado diante de mim. Alto, magro, loiro e tem um pau grandão. É uma abstração, um corpo indefinido, sem história, sem personalidade, sem rosto ou expressão. Eu o chupei e não senti tesão, uma ação totalmente mecânica e desprovida de sentido. Preciso saber um mínimo pra ter tesão. O saco dele formava grandes dobras (era uma noite meio fria) e me dava uma sensação estranha, quase como se fosse um bebê. Não me demorei com ele. O segundo encontro foi no outro dark, o estreito que fica perto das janelas. Aliás, todos os encontros dessa noite rolaram nos dark rooms. Curioso. Esse segundo também foi sem saber muito bem quem era, mas aqui temos um pouquinho mais de luz. Nos aproximamos e rolou. Bem mais envolvente que o primeiro. Ele era baixinho, de corpo mais fortinho, parecia ser jovem, de pele morena. Eu podia enxergar suas reações e fui me excitando, mas tinha muita gente interferindo, e isso me deixa perdido, confuso. Demos uns pegas e o chupei um pouco, mas logo desisti também. Ali mesmo reconheci um cara que já tinha visto no claro e ficado bem interessado. Também mais para baixo, moreno, tipo árabe, cabelos escuros lisos, cortados curtos, corpo muito gostoso, rosto jovem e bonito, olhos amendoados, maxilar largo, a barba aparente, roupa esportiva. Foi rápido que nos aproximamos e foi uma delícia encher a mão com seu corpo. Acabei tirando a máscara e nos beijamos. Que coisa boa é um beijo de verdade! E como faz falta. E como eu me senti um verme por me expor dessa forma. Mas que bunda do garoto! Que beleza de corpo e como era macio! Chupei o pau um pouco, mas tinha um cheiro meio desagradável na virilha. Logo nos separamos. Eu o vi mais uma vez no bar, me olhou e sorriu, todo gatinho, mas passei timidamente com um meio sorriso de canto de boca. Tinha um outro baixinho fortinho que estava me olhando fazia tempo toda vez que eu passava pelo bar. Ficamos um pouco no mesmo dark estreito, mas quando chegou gente perto, ele se retirou. Continuei ali, onde entrava um pouco mais de luminosidade, tentando me entender com tantos corpos a minha volta, quando vi parar na porta um corpo escultural quase nú, o perfil apolíneo em silhueta, uma visão realmente inesperada que fez ferver meu sangue. Parou com os braços erguidos apoiados no batente, com modos suaves e felinos. Um pouco da luz que vinha do lado de fora e o duro contraste das sombras do lado oposto desenhavam cada músculo do seu corpo. Quem seria aquela beleza perturbadora? Por quê, se tão belo, vestia apenas uma cuequinha preta naquele inferninho vagabundo? Um garoto afoito logo se aproximou dele e em poucos segundos estava chupando seu pau grande e grosso. Mais uns dois ou três minutos e a beldade estava exatamente ao meu lado, com as costas na parede, fodendo a bunda do moleque. Sua atitude era extremamente fria e distante, mas fodia com força. Sinto um pouco de medo de gente assim. Na verdade sinto bastante medo. Mas era excitante tê-lo ali tão perto, encostando seu corpo seminu e morno ao meu. Alisei seus braços, o tronco. Desci para a bundinha e ele puxou minha mão com certa grosseria. Acho detestável um viado não permitir que se aproxime de sua bunda. Dois caras estavam ao meu lado e pegavam no meu pau, estava gostoso, mas saí dali. Um pouco depois, ele caminhava de costas indo para o banheiro e desejei vê-lo no claro. Vi que foi para as duas pequenas pias ao lado dos mictórios, dei um tempinho e entrei. Outro cara saía apressadamente e demos um encontrão. Fiquei até sem jeito quando pus meus olhos sobre o gajo. Era até acintoso o que a luz de uma simples lâmpada fazia sobre sua figura. A torneira aberta jorrava sobre o pênis gorducho e rosado que repousava pesadamente murcho na pequena cuba branca da direita. Ele me olhou também e pareceu curioso, com seus grandes olhos azuis bem abertos e atentos. Era louro, pele cor de pêssego, lábios bem vermelhos. Magro, corpo perfeito, bem mais jovem do que tinha imaginado, acredito que tenha em torno de 23 anos. O rosto era inacreditavelmente belo e hipnotizante, dos quais não se tem forças pra tirar os olhos, apesar de a impressão de frieza se manter intacta e incômoda. Quis que ele me visse também e desci a máscara, me olhei no espelho fingindo a maior calma do mundo, e ele o tempo todo de olho em mim. Fiz um bochecho na pia e saí. Estava nervoso. A beleza me incomoda, perturba. É um ponto fraco. Pensando um pouco, talvez seja  aquela frieza (ou o que leio como frieza) aliada à beleza o que me desestabiliza. Preciso observar melhor se existe um padrão pra entender que significado pode ter. Aquela imagem ficou marcada na minha retina. Dois, três segundos foi o tempo que olhei para ele. Três segundos e eu só pensava nele. Fico admirado com o quanto um homem de 47 anos, razoavelmente esclarecido, pode se portar como uma besta. O rapaz lembra bastante o ator Fábio Assunção quando jovem, ouso dizer que ainda mais bonito. E o Fábio Assunção foi uma paixão inatingível da minha juventude. Mesmo agora enquanto escrevo, dez dias depois, fico mexido quando penso em seu olhar faiscante. Azul transparente contra o pêssego cálido da pele. Vi insegurança, arrogância, curiosidade, desafio, tristeza, calculismo, solidão. Muita coisa pra três segundos. Tendo a achar que tudo isso está presente em qualquer um e o que acredito ter visto nele, vi foi em mim mesmo. Talvez o incomodo venha dessa constatação, desse espelho que podemos ter em cada rosto humano. Já era hora de me preparar para ir embora, e estava de volta ao dark maior, ali perto do banheiro, e o baixinho que me olhava bastante veio a mim novamente. Estávamos sozinhos. Ele é bem bonitinho e foi gostoso ficar com ele num canto no fundo da sala. Mais uma vez tirei a máscara e nos beijamos. Bunda musculosa, lisinha, boa de apertar, cuzinho lubrificado. Ele tinha uma atitude cautelosa. Me chupou com a maior delicadeza. Meu pau não estava 100%, mas isso não era o ponto, nunca é na real. O Mr-Frieza-Loiro-de-Cueca entrou e parou do outro lado, olhando pra nós. Parecia se masturbar. Eu sabia que ele estava ali por minha causa. Veio o nervoso, a ansiedade, o desejo, a insegurança. Acho que o garoto percebeu que me desconectei dele e foi-se embora. Agora eu estava sozinho novamente com um dos homens mais bonitos que vi nos últimos anos, num quarto escuro e ele tava tocando uma punheta e olhando pra mim. Havia pouco tempo, muito pouco. Cruzei a sala e fui me chegando. Segurei seu pau macio. Eu queria muito abraçá-lo, beijar, receber um carinho seu. Um papo seria pedir muito? Pois eu queria conversar, saber quem ele é, ouvir sua voz. Porra, faz mais de um mês que não converso com ninguém, não tenho ninguém. Queria muita coisa naquele momento apressado. O que consegui fazer foi agachar e chupar, desautorizado de tocar sua bunda, com medo de esboçar um carinho e ser repelido. Era um pau gostoso na boca, um corpo bom de tocar, mas era sim extremamente frio e distante. Por mais que ele gemesse e respirasse fundo, que puxasse minha cabeça pra foder (coisa que detesto e acho bastante grosseira), não senti que tinha uma relação comigo como indivíduo, sequer como ser humano. Eu era uma boca, um buraco aleatório para o seu prazer. Isso me broxa totalmente, e esse é o ponto, sempre. É bem pior que a broxada física. "Você é muito bonito, menino", eu disse para me despedir, com uma voz que quase não saiu. Consegui suportar sua frieza por pouquíssimos minutos.

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