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domingo, 22 de janeiro de 2012

Verde-Uva


   Gostei de ir à For Friends numa sexta-feira (sexta-feira 13, aliás), sei que voltarei mais vezes. Não estava superlotada, nem vazia. Tento entender por que fui, por que volto. Será tão pouco o que busco nesses lugares? Suprir uma carência, a necessidade de sexo e contato superficial com gente nova? Infelizmente, os desconhecidos da sauna quase nunca se permitem aprofundar algum tipo de relação que não a sexual e imediata, e isso só aprofunda o meu vazio. Não falo unicamente de uma possibilidade de envolvimento amoroso, mas de alguma coisa que vá além do corpo, de um instante de tesão. E constato que sou também apenas mais um "desconhecido da sauna", mais um homem disponível apenas para o sexo - feito de fraquezas, preconceitos, feridas mal cicatrizadas, culpa, covardia, egoismo, superficialidade e muita conversa mole. Que, como tantos outros, se ilude numa fantasiosa busca por um amor, um companheiro, que provavelmente nem teria espaço na minha vida. Com todos esse background e vestígios duma gripe recente, cheguei por volta das 17h.

   Demorou até que me aproximasse de alguém, mas já tinha visto pelo menos dois caras muito interessantes. O primeiro deles estava num sofá da primeira sala de vídeo da ala escura da casa. Mesmo no escuro, meu "detector de gringos" disparou. Tenho uma atração irracional por estrangeiros - meu antigo analista sugeriu uma vez que eu os procurava por serem quase sempre inacessíveis, de convivência improvável para além de uma transa. De onde eu estava, via o rapaz de perfil, sentado no sofá de vinil vermelho, com um rapazinho deitado em seu colo. A luz do telão realçava o desenho impressionante de seu perfil. Um homem grande, jovem, de pele clara, cabelos castanhos em corte militar, levemente úmidos e arrepiados. A relação entre seu nariz e o queixo era o que tornava seu perfil tão magnético e majestoso. Projetavam-se ambos para a frente e, em menor escala, para o alto; em harmonia rara de proporções desafiadoras. A luz azulada incidia por toda a ossatura de seu rosto de forma a corroborar com essa fascinante arquitetura facial. A grande beleza exerce sobre mim, ao menos num primeiro momento, duas forças antagônicas muito claras e simétricas: encanto e timidez. Ele pouco olhava para mim, mas já ali notei algum interesse de sua parte. Encontrei-o mais tarde num corredor, e me olhou com frieza. Segui-o ainda à sauna a vapor e foi igualmente distante. Passei a ignorá-lo.

   Saí dali. Sabia que o outro bonitão estava na sala ao lado e fui procurá-lo. Parecia tímido. Grandalhão, também jovem, loiro escuro, de barba, olhos verdes, corpo sólido, bronzeado - um tipo muito bonito e agradável. Havia mais uns 5 caras por perto. Sentei de frente pra ele, na bancada oposta. A distância e o vapor em meus olhos dificultavam a visão. Eu o olhava fixamente - sou bom fisionomista e em pouco tempo, pela silhueta, estava certo de que o encontrara. Ele me olhava também, com a cabeça inclinada. Vagou espaço ao seu lado e, ainda inseguro, fui. Esboçou um aceno com a cabeça, mas vieram sentar perto e ele levantou. Fomos nos apresentar no hall de entrada da sauna..

   -Tudo bem?

   -E aí! Como é seu nome?

   -Yuri e o seu?

   -John, prazer. Primeira vez que aqui?

   -Não, já conhecia. E você?

   -Primeira. Você é daqui mesmo?

   -Sou sim. Você é de onde?

   -Do Rio.

   -Passeando?

   -É. Escuta, como funciona aqui?

   -O que?

   -Não tem um lugar onde a gente possa ficar mais à vontade?

   -Tem... vem aqui.

   Eu pensei em levá-lo à salinha de leitura ali perto, mas ele queria um lugar ainda mais privativo. Entramos na sala do saco de pancadas. Toquei seu peito musculoso, em que distinguiam-se pelos e algumas sardas.

   -Quantos anos você tem? - perguntei.

   -28 e você?

   -38, faço em março.

   -É mesmo? Não parece ter 10 anos a mais que eu...

   Parecia preocupado com o ambiente:

   -Mas não tem um lugar mais tranquilo aqui, onde não passe gente? - ele tinha uma voz suave e grave, com pouco sotaque carioca. Educadíssimo, gentil em todas as atitudes, "moço de família".

   -Tem os quartos, quer rachar um? - eu não tinha ideia do preço de um quarto ali, mas achei que ele valia a pena.

   -Mas tem que pagar? Não tem um lugar assim, mais escuro?

   -Lá em cima tem umas cabines...

   -Cabines, como?

   -É tipo um banheiro - informei, meio sem jeito. Devia ser a primeira vez na vida que ele entrava numa sauna gay. Pensei que ele pudesse achar tudo muito "baixo" ou desconfortável.

   -Ah, então vamos lá! - disse vivamente.

   Subimos. Já na cabine, pendurei a toalha na porta. Ele estava sem saber por onde começar. Tirou a toalha também e me apalpou:

   -Porra, seu pau é grosso, cara!

   Tudo nele me dava a impressão de alguém numa nova experiencia, se desafiando - e isso me excita muito. Seu sorriso era lindo e doce; seu olhar, curioso:

   -Você curte o que? - quis saber.

   -Geralmente sou ativo, e você?

   -Só fui passivo uma vez na vida. Mas seu pau é muito grande.

   Meu pau não é nada descomunal. Sentou no vaso sanitário e me chupou com delicadeza, por um longo tempo. Eu tinha a impressão de que ele queria me fazer gozar, e a ideia de ejacular na sua barba era tentadora. Eu o ergui, nos beijamos e abaixei para chupá-lo também. Era um pau comum, em comprimento, forma, calibre. De seu púbis exalava um odor quase desagradável, porém muito sutil. Ele estava o tempo todo para gozar: segurava minha cabeça e pedia para esperar. Voltou a me chupar, sentado no vaso como antes. Lambeu meu saco e o períneo. Ia descendo em direção ao ânus e eu levantei a perna direita, apoiando o pé na parede do fundo da cabine (eu estava encostado na porta). Lambia com delicadeza mas boa pressão. Passou minha perna direita sobre sua cabeça e virou meu corpo, com a bunda pra ele. Abria minhas nádegas e lambia com intensidade. Sua barba macia fazia uma fricção gostosa na minha pele. Abri a bunda para ajudá-lo, e quando tirei as mãos, puxou-as para trás e as posicionou como antes. Estava concentrado:

   -Fica assim! Puta tesão, cara!

   Eu já pensava em fazer o mesmo com ele. Comecei pelo pau e quando ele ameaçou gozar, virei seu corpo de costas para mim. Era um corpo grande, forte. Naturalmente bonito, não do tipo "bombado". Tinha pêlos alourados pelas nádegas e mais concentrados no centro. A pele avermelhada, corada de sol, destacava a marca de sunga, branquinha, branquinha. A pele clara e macia da bunda ia ficando mais escura quanto se aproximava do ânus. Por trás, estava bastante limpo e sem odores estranhos. Quando eu enfiava a língua, ele puxava minha cabeça contra si e gemia. Me demorei bastante. Passei meu pau entre suas nádegas e perguntei:

   -Quer tentar?

   -Não rola, cara. Eu não aguento.

   -Tenho camisinha aqui, lubrifico, faço bem devagar, sem forçar. Se você pedir, eu paro.

   Ele virou-se, rindo.

   -Eu até queria, mas hoje não dá.

   Nos beijamos. Perguntei se ele queria gozar.

   -Quero.

   -Quer gozar na minha boca?

   -Você deixa? - perguntou fascinado.

   Abaixei para chupá-lo mais. Eu não sei direito por que fiz a proposta, não estava com vontade. Mas foi assim, rápido. Cuspi o esperma no vaso e ele riu. Não lembro como nos despedimos. Tomei um banho, escovei os dentes e desci.

   O gringo andava pra todo lado procurando alguém. Parecia fazer um esforço pra não olhar pra mim. Mas rondava, parecendo tentado a me cumprimentar e sem saber como. Quase sempre homens muito bonitos têm este comportamento babaca: fingem-se aéreos, desligados, querem ser bajulados, conquistados com esforço e mérito. Passava perto, às vezes parecia decidido a me abordar, vinha em minha direção, todo seu corpo dirigido a mim, mas desistia. Pode ser medo de levar um "não"? Pode - e eu tenho um semblante fechado, sério. Mas... para um homem lindo (e ele era lindo, inabalavelmente lindo), com todos os "sins" iminentes, disponíveis... parece mais capricho, uma convenção, um jogo preestabelecido e que não me interessa aprender. Tenho preguiça.

   Gosto de relações diretas: Tô a fim de você, então te olho diretamente pra que você perceba isso e se decida/ Não tô a fim de você, então evito te olhar e não correspondo aos seus olhares, pra que você se toque e me dê paz. Talvez por timidez e insegurança eu evite ao máximo esses jogos de sedução; ou talvez eu simplesmente não tenha imaginação, e perca por isso grandes emoções... Mas duvido. Decidi continuar na minha estratégia reservada. Claro que já tinha uma penca de homens atrás dele, mas quase nenhum que ele pudesse preferir a mim. Um deles era interessante até, corpão, bom tipo, mas não bonito de rosto. Tinha acabado de entrar na sauna e ficava nos rondando, afoito e indeciso entre mim e o gringo. Naturalmente mais propenso a ele, mas eu seria um step honesto. E quanto mais "distraído" da beleza do gringo eu forjava estar, mais simpático este se mostrava a mim. Talvez, sem perceber, eu estivesse fazendo o mesmo jogo besta que ele.

   Fui encontrá-lo na pequena sala de vídeo do andar superior iluminado, perto dos banheiros. Ele estava sentado de lado, quase de costas para a porta e me viu pelo canto do olho, notei. Tenho certeza de que esperava que eu me sentasse ali perto e eu estava prestes a ir. O outro cara, o que nos perseguia, se aproximou também e eu recuei. O gringo levantou um pouco irritado, mas ao passar por mim, fez um cumprimento inseguro, quase tímido, com um breve sorriso. Eu tremi na base! Os longos cílios de seus olhos verde-uva; a boca tensa e vermelha; os vestígios da barba recém raspada em seu queixo e maxilar quadrado; os dentes, seu porte, suas cores e texturas. Tanta beleza pros meus olhos, e visivelmente sem jeito por minha causa... Ou por causa do meu falso desdém... Entrou na sauna no fim do corredor e eu corri atrás. Já sem a menor possibilidade de manter qualquer dignidade e compostura, de chinelos e toalha na cintura, corri. Empurrei a porta e ele já vinha saindo. Nos olhamos nos olhos por um fração de segundos e eu, sem saber o que fazer, entrei. Ele também. Entrou de volta, atrás de mim - e por minha causa, pensei. Senti-me lisonjeado e aflito. Sentei na bancada azulejada de branco, e ele a um metro de mim, perto da porta. Havia mais gente ali dentro, na bancada oposta à nossa. Eu o olhava insistentemente e ele fixava os olhos no teto. Seria possível que fosse tímido assim? Nada em seus modos e postura o confirmava. Só com muita insistência veio a lançar olhares furtivos pro meu lado. Era hora de agir. Sentei ao seu lado. Ele não conseguia me encarar ainda, mas alisou desajeitadamente a minha coxa. Eu o toquei. Também bastante sem jeito. Não sabia como lidar com ele e bateu uma insegurança atroz. Minhas mãos no seu peito me pareceram as do garotinho que eu havia visto deitado ao seu colo e que me pareceram tão inexperientes. A posição dos nossos corpos, sentados lado a lado, contribuía para essa impressão de algo desconexo, atravancado. Seu rosto tão de perto, seus lábios ao alcance dos meus, parecia um sonho. Pensei que com a boca eu não decepcionaria. Nos beijamos. Era como beijar um príncipe encantado de conto de fadas. Acontece que eu morro de tesão em príncipe encantado. E eu já estava pendurado no pescoço cara, totalmente envolvido pelo beijo, quando subitamente empurrou meu peito, até com certa força, e voltou a encostar na parede e olhar pro teto, como se nada tivesse acontecido. Não sei descrever meu estado de confusão naquele momento. Não sabia pra onde olhar, o que fazer ou pensar. Rejeitado bruscamente, sem explicação. Levantei. Muito mais para evitar que ele se fosse antes de mim, que por vontade própria. Minha autoestima ficaria minimamente vingada. Mas ao notar que eu ia levantar, ergueu-se junto, num reflexo. Saí na frente e entrei embaixo do chuveiro bem na porta da sauna. Magoado, num estado de fragilização que me surpreendia. Era, afinal, um completo estranho. Ligou a ducha imediatamente ao lado da minha. Custei a encará-lo, mas notei a tatuagem na lateral da bunda: um pequeno cupido, muito bem desenhado. E notei ainda que seu pau estava completamente ereto, e que me olhava. Me apavorou a ideia de que meus olhos denunciassem meus sentimentos. Eu, uma autêntica besta, poderia facilmente chorar naquele momento. Esfriei a ducha completamente e enfiei a cabeça debaixo dela. Funcionou como eu esperava: dei uma sacudida, me recompuz. Só então pude encará-lo mais tranquilamente. Ele agia com perfeita naturalidade, me olhava e olhava muito para a parede também. Tinha um sorriso sutil nos lábios:

   -Do you speak english?

   -Yes... Where are you from?

   -U.S.A., Massachusetts.

   -Ok.

   -And you?

   -I live near here. What's your name?

   -Jason, and yours?

   -Yuri.

   Eu encostei na parede para observá-lo enquanto se enxugava, ainda abismado com sua incomum beleza, seu porte, uma espécie de "aura" terrivelmente sedutora. Com certeza minha cara era de paspalho:

   -What?! - intimou.

   -Man, you're incredibly handsome!

   -Thanks! you too - disse, num sorriso vaidoso.

   -Come here.

   -Where? - perguntou no caminho.

   Escolhi uma cabine do banheiro e a indiquei com a cabeça. Ele pareceu surpreso, como se fosse uma ideia super original:

   -This, I've never done before.

   Fechei a porta. Agora ele era meu. Por alguns momentos ao menos. Um pequeno vitrô trazia ainda para dentro da cabine um pouco de luz solar. Seu rosto, sob essa luz, faiscava encanto e saúde. Não perguntei sua idade, mas devia ter seus 26 anos apenas. Voz grave e sexy. Ali reparei que era só um pouco mais alto que eu (aparentava, por sua compleição física, ser muito mais). Ombros e costas largos; quadris estreitos; bundinha empinada, pequena; pernas longas e fortes; poucos pêlos - quase nenhum no tronco. Ainda me causavam forte impressão os traços do seu rosto, a pele de louça e sobretudo o queixo e o nariz. O queixo, de perfil, arredondava-se numa projeção admiravelmente masculina e atrevida; o nariz, elegantíssimo, alongado, de dorso levemente côncavo.  Como se resultasse da mistura de um galã de filme hollywoodiano e um retrato pintado em outros tempos. Segurei seu queixo de perfil para olhá-lo melhor. Parecia se divertir com o modo como eu o estudava milimetricamente. Me beijou a boca. Ele era muito masculino nas maneiras e eu queria saber o que ele toparia. Enquanto nos beijávamos, explorei sua bunda tranquilamente com as mãos. Gosto de beijos que começam intensos e depois podem-se alternar as dinâmicas. Para minha surpresa, ele me interrompeu outra vez. Agora com a explicação:

   -Less tongue!

   Realmente, eu adoro vasculhar a boca alheia com minha língua. Adoro! Muita gente gosta disso em meu beijo, mas ele se incomodou; me informou e eu me adaptei. Prático, very american. Era gostoso beijá-lo calmamente também. Seus olhos tinham um quê de frieza. Me contou que tinha vindo para o réveillon no Rio e, resumindo, pra galinhar "with you, guys".

   O pau era bem clarinho, rosado, mais pra fino, não muito grande também. Bonitinho, macio. Eu o chupei mas foi se tornando uma ação mecânica. Já percebia que o meu pau estava perdendo a ereção e eu não estava mais tão excitado - provavelmente por insegurança, pois ele não me deixava muito à vontade. Pedi que se virasse de costas. A bunda era tudo que se pode sonhar. Pequena, branca, lisa, macia, firme. O buraquinho era minúsculo, cor-de-rosa vivo, rodeado de parcos e finíssimos pêlos acastanhados. Se pudesse admirá-lo antes que ele se impacientasse, teria me detido por horas. Ao lambê-lo, retomei o estado de excitação inicial. Talvez por estar longe de seus olhos que me intimidavam. E a visão de seu corpo viril naquela posição vulnerável era perturbadora. Empurrava minha cabeça com a bunda, me fazendo encostar na parede. Arqueando o corpo, ele alcançou meu pau e me chupou enquanto eu continuava com o cuzinho na boca. Não sei quanto tempo durou esta ação, eu estava em êxtase, e só parei por não suportar a tensão das minhas coxas, quase em câimbras.

   -Let me fuck you?

   -No, not today.

   -Please, I've got a condon here.

   É, ninguém queria dar pra mim naquela sexta-feira 13....

   Nos beijamos e ele me chupou mais. Pude ver seu rosto cinematográfico engolir meu pau. Desde antes de nos aproximarmos, eu notei que ele olhava o relógio constantemente:

   -I've gotta leave soon...

   -When?

   -About 15 minutes.

   -Do you wanna cum? Cum in my mouth.

   -Do you want it?, ele parecia surpreso.

   A mesma velha história. Falta de imaginação minha. E desapego, visto que não era meu desejo consciente em nenhum dos dois casos. Talvez por perceber que nenhuma das duas transas terminaria em penetração, eu quis coroar ambas com um final "memorável". Voltei a chupá-lo e inseri um dedo em seu ânus. Ele se masturbava, dizendo algumas frases levemente vulgares, que chegaram a me deixar um pouco encabulado. Pus dois dedos dentro dele e fazia movimentos contínuos e lentos. Ele suava, tinha o rosto avermelhado. Gozou. Tinha a consistência de um gel fluido, meio pegajoso. Além da boca, atingiu meu rosto e o peito. Fiquei enjoado e cuspi. Ele riu comentando o quanto eu estava lambuzado. Percebi que sentia uma certa aversão pelo próprio sêmen e partiu friamente, deixando apenas um tapinha seco no meu ombro. Sequei-me com papel e depois pedi ao atendente uma nova escova de dentes e outro envelope de creme dental.

   Sentei para descansar um pouco, devia ser por volta das 19h. O enjoo passou completamente, visto que pedi uma torta de frango na lanchonete. Um cara passou por mim, em direção ao lado escuro da casa. Já o tinha visto apenas de perfil e me pareceu bonitão e algo familiar: moreno, aproximadamente 40 anos, corpo de nadador - alto, longilíneo, de costas largas, bem definido, sem pêlos. Escovei os dentes de novo e subi atrás dele, sem pensar muito. O andar escuro estava completamente apagado nessa noite. Parei diante do vídeo, encostado na parede. Em dois minutos ele estava ao meu lado. Realmente era um homem atraente, pode-se dizer bonito: rosto largo, queixo bem feito, sobrancelhas grossas. Foi um momento estranho aquele primeiro em que nos olhamos sob a luz vaporosa do televisor. Persistia a ideia de já tê-lo visto antes, mas não era o que me importava agora. Houve uma troca real e funda em nossos olhares. Eu não o olhava ou me deixava olhar simplesmente - era outro lance. Havia calma, embora me sentisse atraído. Como se meu olhar fosse tão fundo que o ultrapassasse. Era algo como olhar num espelho que refletisse, não minha aparência física, mas a vida como um todo, e o mundo e a humanidade - com toda a sua contradição, miséria e beleza. Mas era um momento sereno, um troço pequeno que percebi (ou que teria criado?) e em que me permiti embarcar. Nos tocamos com suavidade e, a despeito da transcendência de segundos antes, não deixei de ponderar sobre seu hálito, apenas aceitável. Houve o beijo e ele me convidou pra irmos para um quarto. Chama-se Felipe. No caminho, comentei como ele me parecia familiar, e ele disse sentir a mesma coisa.

   No quarto, nossa interação foi bastante intensa. Estava muito abafado lá dentro, até que eu encontrasse o ventilador. Nos excitamos de todas as formas possíveis, exceto penetração. Pedi que ele se virasse na cama e o lambi com muito tesão. Tem uma bunda fantástica, pequena, muito máscula. Perguntei:

   -Você gosta de dar?

   -Hum... não. Mas estava quase reconsiderando essa possibilidade. A sua língua é uma loucura!

   -Quer tentar?

   Não houve acordo. Ainda pedi que ele ficasse de quatro na cama (precisava ver aquela bunda de quatro), brincamos bastante, mas não rolou. Gozamos nos masturbando, eu por cima dele, sentado sobre suas coxas. Ele gozou primeiro e depois eu - na sua barriga, no peito, na cama. Eu custo a gozar mas quando vem, é pra valer. Deitamos lado a lado na cama estreita. Conversamos por mais de uma hora. Falamos do quarto, descobri que é barato pra alugar, cobrado por hora de utilização. Eu estava com dor de cabeça, provavelmente resquício da gripe. Reafirmei que o conhecia, mas não lembrava de onde e ele disse que já tínhamos nos visto ali mesmo.

    -Será possível que eu não lembre de você daqui?

   Ele tem 41 anos, paulistano. Abandonou há seis meses a antiga profissão, bastante tradicional e estressante, por um emprego numa importante e problemática instituição cultural da cidade. Me pareceu muito boa pessoa, simpático, calmo, delicado. É bonito mas, apesar de nosso sexo ter sido ótimo, não tem um sex appeal muito evidente. Ele tinha um jantar marcado (pelo que entendi, com um cara). Tomamos banho juntos e ele foi se vestir. Pediu o número do meu celular e, não sei porque, pensou que eu tinha de sair da sauna junto com ele. Não saí. Disse que ia esperar a dor de cabeça melhorar. Ainda tinha fôlego pra mais sexo. Fui olhar a sauna, tinha ficado fechado no quarto por muito tempo. Só um cara interessante: alto, cabeça raspada, rosto muito bonito, olhos bem azuis, argola na orelha, corpão sarado, todo tatuado. Fiquei bem curioso mas ele partiu logo em seguida. Eu tinha uma viagem e saí logo também. Na noite seguinte, o Felipe me mandou uma mensagem no celular pra que eu ficasse com seu numero e avisasse quando estivesse de volta a SP. Me deu um estalo de que ele poderia ser um dos caras que encontrei no dia descrito no primeiro post do blog, um que tinha olhar carente e mau hálito. Nunca mais nos falamos.