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quinta-feira, 1 de março de 2012

"Cosas Feas"


   Eram 17h30min duma sexta-feira e havia caído uma chuva muito forte pouco antes de eu entrar na For Friends. Garoava ainda. O dia, de intenso calor e sol, terminava com o céu cor de chumbo e uma atmosfera esquisitíssima. Eu vinha cansado, carregando a bagagem para uma viagem de fim de semana e precisava relaxar. Não era animadora a primeira impressão que tive da frequência da sauna naquela noite, apesar de contar com aproximadamente cem homens.

   Felizmente essa impressão desfez-se em poucos minutos, quando passou por mim um garoto muito bonito. Era baixo, moreno, pêlos no peito, sem excesso de músculos, rosto lindo, barba por fazer, cabelo curto com uma franja de lado; um visual ao mesmo tempo masculino e suave. Passou por mim, reparou no meu interesse e desceu. Desci atrás mas ele parecia se esquivar. Esperei. Reafirmei meu interesse com olhares até ter certeza de que ele tinha entendido. Imaginei que estivesse entrando naquela hora também e queria ter uma ideia melhor das suas outras opções.

   É estranho como se identifica um estrangeiro instantaneamente. Pelo tipo físico, ele podia ser facilmente confundido com um brasileiro, mas sempre tem algo que mostra, ainda que inconscientemente, quem vem de outras terras. Mesmo num ambiente em que todos estão "vestidos" apenas com a mesma indefectível toalha branca. É o olhar, o andar; sutilezas assim. Infelizmente não tenho consciência alguma delas, não sei adjetiva-las e diferenciar objetivamente o andar brasileiro, o olhar estrangeiro; mas quase sempre acerto.

   Agora ele estava na saleta de vídeo do andar superior, perto dos banheiros. Então me sentei a sua frente. Na tela, a cena era altamente excitante, com três atores bem bonitões e realmente entregues. O rapaz parecia titubeante, olhava pra mim sem saber se devia ou como se aproximar. É apavorante pensar em quanto o ser humano tem um comportamento linear, repetitivo e padronizado: sempre que se está nessa situação, basta tirar o pau pra fora que o cara vem imediatamente sentar do seu lado.

   Tive de me acostumar (e demorou um tanto) com o seu hálito de jejum prolongado, mas de resto estava todo cheiroso e limpo. Chama Javier, espanhol, 26 anos, engenheiro, trabalhando em Itaipu há 5 meses. Muito simpático e charmoso, nosso contato foi muito agradável. Ficamos ali no sofá por mais de uma hora, nus, nos pegando sem preocupação com quem passava ou sentava ao nosso lado para olhar de perto e tentar interagir. O único que foi mais ousado sentou por trás de nós e ficou alisando a minha bunda. Percebi o quanto o Javier tinha se excitado com aquilo, e, apesar de me sentir um pouco aflito inicialmente, deixei rolar. Eu estava por cima do Javier, que abria minha bunda e o cara apalpava. Era um homem absolutamente comum, sem nenhum atrativo, mas não era feio. No começo, seu dedo no meu ânus incomodava, mesmo que ele não o tenha forçado para dentro (sensação que eu detesto quase sempre), mas quando ele puxava meu pau pra trás e me masturbava, era muito excitante, eu ficava a ponto de gozar. A cada vez que voltava ao ânus, vinha mais ansioso, usando cada vez mais os dedos. Nas vezes em que tentou de fato introduzir um dedo, eu o impedi, puxando sua mão. Ele sacou que podia continuar, mas só ali por fora. Eu também entendi que ele havia entendido, e relaxei. Tinha a sensação de que ele estava com três dedos, simulando um pênis que me roçava o ânus. Minha vontade era de que ele me lambesse a bunda. Seus três dedos não eram invasivos e depois de um tempo a sensação era extraordinária - acho que eu poderia gozar sem estímulo genital - e cheguei a desejar que ele fosse mais além. Alguns homens entraram na sala e foram se enfileirando na parede de frente pro sofá em que estávamos - o que cortou o clima, obviamente. O cara saiu e quando os outros vieram mais perto, chamei o Javier pro banheiro. Mas o clima já havia se perdido quase completamente entre nós. Fazia um calor terrível ali dentro e quase não aconteceu nada. O chamei pra uma ducha. Eu gostava da sua companhia mas queria dar uma volta, e ele não desgrudava. Ficamos ali no corredor do banheiro, nos beijando e conversando mais um pouco.

   Meu amigo Roger, que sempre encontro nas saunas da vida, passou por nós e me cumprimentou brevemente. E apareceu um carinha. Digo, "o" carinha. Desses em que eu ponho os olhos e fico perdido. Pele bem clara e com poucos pelos, 1,80m, corpo bem desenvolvido, farto, ombros largos. Tinha até um pouco de gordura em alguns pontos, o que o tornava ainda mais tentador. Rosto sério e delicado, de expressivos olhos escuros, queixo másculo, cabelos de comprimento médio. De perfil, o nariz era um pouco maior que a média, de dorso muito reto. Tinha um jeitinho petulante e parou na nossa frente, encostado na parede oposta. Mesmo eu estando acompanhado, não conseguia desgrudar os olhos dele. O Javier percebeu e olhou pra tás:

   -É lindo, não?, perguntou.

   Eu respondi com uma torção de boca, que queria dizer: "Porra, se é!!"

   O carinha entrou numa cabine do banheiro com um careca musculoso e saiu em menos de três minutos. Eu queria ir atrás dele, não sabia como sair dali. O Javier agora parecia estranho, eu não entendia o que ele queria. Não sabia se ele queria se livrar de mim ou se tinha percebido que eu queria me livrar dele.

   -Quer dar uma volta? - perguntei.

   -Você quer?

   -Vamos... Vou olhar meu celular lá no armário.

   -Mas você não vai querer ficar mais comigo?

   -Vamos, depois...

   (Ele falava em espanhol, ou "portunhol" mas não sei transcrever as falas por não dominar o idioma)

   Eu estava quase arrependido da proposta, ele parecia desapontado. Nos separamos assim. Por outro lado, foi um alívio, eu só pensava em procurar o outro carinha que tinha aparecido. Vi que ele entrou na sauna lá de baixo e fui atrás. Encontrei-o sentado na segunda sala. Joguei minha toalha na bancada e fui me refrescar na ducha, bem ao seu lado. Tinha pouca gente ali dentro. Sentei próximo dele sobre minha toalha e nos olhamos. Meu pau ficou duro e ele reparou. Sorriu e sentei mais perto, bem ao seu lado. Ele segurou meu pau e tirou o dele pra fora, pela fresta da toalha. Era pequeno e não estava ereto. Eu beijava sua nuca e alisava seu peito, a barriga. Minha ansiedade era crescente, e me sentia inseguro, sem saber como lidar com ele ainda. Pensei em beijar sua boca. Foi quando ele levantou e saiu, com um tapinha seco em minha coxa.

   Não é agradável a sensação de ser desprezado assim. Alguns minutos depois, passei pelo bar e ele estava bebendo alguma coisa numa mesinha próxima do corredor. Olhou pra mim com um sorriso cúmplice. Fui apenas educado, passei por ele e cumprimentei. "Caralho, que homem bonito!", pensei ainda. Nos cruzamos algumas vezes, ele me olhava sempre com o mesmo sorriso, cujo significado eu desconhecia. Mais tarde ele estava sentado numa poltrona da grande sala de vídeo, com uma lata na mão, chupando o canudinho. Eu estava apenas de passagem e nem quis retribuir seus olhares e o mesmo sorriso enigmático (agora com um canudo entre os lábios). Depois disso ele virou o rosto pra mim todas as vezes em que nos encontramos. Sentei pra conversar com o Roger na sala principal. O belo veio sentar na outra mesa, e falávamos sobre ele. O Roger tinha visto a gente se pegando na sauna e contei como terminou. Todo cara que eu acho gato, ele faz questão de apontar milhões de defeitos, muitas vezes inventados. Dizia deste que era afeminadíssimo e nem tão bonito quanto eu afirmava. Que eu o achava lindo apenas por ele ter me desprezado. Referia-se a ele como "o seu muso". Depois mudou de tática, começou a dizer que eu estava abatido, que tinha emagrecido, que devia ser por isso que levei o toco. Não faltou o momento "recordar é viver": ficou lembrando das vezes em que ficamos, que foi muito bom, e blablablá, blablablá. Perguntou do Javier e chegou a sugerir que ficássemos com ele.

   Fui circular e reencontrei o Javier, conversamos mais um pouco.

   -O que esteve fazendo por aí?, perguntou.

   -Nada... nada mesmo. E você?

   -Cosas feas.

   Eu ri do jeito dele. Beijei seus lábios e ele me olhou como quem dissesse: "Agora perdeu, mané". Não disse isso, nem nada parecido, mas sua respiração e olhar tinham essa intenção. Estava esquisito o clima entre nós, o que era uma pena. Culpa minha, da minha instabilidade, da minha imensa dificuldade de estabelecer mínimos laços. Divido a culpa com aquele demoniozinho delicioso que apareceu e me enfeitiçou. Perguntei se tinha perfil no Facebook. Me disse seu nome completo, de sobrenome pomposo, contou como era sua foto do perfil, diante de um mapa da América do Sul. Entrou na sauna.

   Apareceu um outro garoto interessante, altão, rosto bem bonito, cabelos cacheados. Me desprezou solenemente: perseguia o mesmo bonitão que me tinha virado a cabeça. Este já estava vestido e circulava pela área dos armários. O garoto alto ia atrás, feito bobo, de pau duro (imenso) sob a toalha. O outro se fazia de desentendido, mas continuava por ali, ensebando, fingindo que secava os cabelos, que procurava alguma coisa... nunca entendi muito esse tipo de personalidade - ou de desvio de personalidade. Quem tem atrativos (físicos ou quaisquer outros) e se vale deles, não para desfrutar da companhia dos atraídos, mas para mantê-los a distância, numa posição diminuída, suplicante, apreensiva.  Não há beleza que não se apequene diante desse tipo de manipulação doente.

   Eu não tinha gozado nenhuma vez e me recusei à derrota de me masturbar sozinho no banheiro antes de ir embora. O Javier estava parado perto do vestiário, parecia desanimado olhando a televisão. Fui conversar com ele mais um pouco. Ele tem um nariz absolutamente perfeito, me lembrou muito o do modelo Bernardo Velasco. De rosto, ele parece muito com esse modelo. Apertei a ponta do seu nariz, disse o quanto o achava lindo e nos beijamos mais uma vez. Ele me convidou pra ir à The Society com ele naquela noite, mas eu ia viajar. Perguntei de novo seu nome completo pra adicioná-lo no Facebook e ele achou absurdo que eu tivesse esquecido. Não sei por que, já que depois não aceitou minha solicitação de amizade, nem respondeu à mensagem bobinha que eu lhe havia deixado.

   Esperei que ele se fosse e saí também. Irritado por não ter gozado e por ter desperdiçado o espanholzinho. Na rodoviária, enquanto esperava a hora do meu ônibus, percebi uma movimentação estranha no banheiro. Minha hipocrisia burguesa sempre achou muito inadequado fazer pegação em banheiro público, como um desesperado. E era exatamente assim que eu me sentia. E tinha um japonês, um mestiço, bem bonito: corpão bombado, dourado de sol, rosto interessante, e ainda tinha um pau grande. Levantou a camiseta justa pra mostrar seu abdome - realmente irrepreensível. Eu quase gozei no mictório. Ele saiu. Ficou sentado na porta do banheiro uns 10 minutos, com a mochila nas costas. Eu o olhava de longe. Voltou ao banheiro e eu também - lado a lado no mictório novamente. Saquei bem a arquitetura do banheiro e o jeitão aéreo do homem que fazia a "limpeza" do local. Convidei (com olhar profundo e uma guinada de cabeça) o japa pra entrar numa cabine do banheiro comigo, lá nos fundos. Praticamente só tinha viado ali, ninguém com criança... estava tranquilo. Ele veio atrás. Entrei numa cabine, fechei a tampa do vaso, pendurei minha bagagem num gancho e deixei a porta entreaberta. O japa parecia muito nervoso, passava pra lá e pra cá, sem coragem de entrar. Um caipira se ofereceu pra entrar no lugar dele e o espantei com um chacoalhar de mão. Finalmente o japonês veio! Assustado, sussurrando que não tinha tempo, que seu ônibus estava para partir. Eu arriei suas calças. O pau apontava pro teto, macio, moreno. Passou o pau no meu rosto e o chupei. Ele se vestiu rápido, riso tenso, dizia que não podia perder a passagem. Segurou no meu pau, estourando sob a calça, com um olhar malicioso, safado. Piscou um olho e virou-se pra sair. O puxei pelo cós do jeans justo e antes que ele saísse, dei um apertão na bunda
   Foi rápido e um tanto frustrado esse encontro, mas posso dizer que me excitou mais que muitas idas à sauna. Pela tensão e adrenalina na veia, mas é claro que é impraticável ter esse tipo de encontro mais vezes. Só fui gozar no banheiro da casa da minha tia - mais para aliviar a dor no saco, que por tesão - mas lembrei muito do japonês bonitão nessa hora. Retornando a São Paulo, passei no banheiro da rodoviária, claro. E foi uma grande decepção, claro.