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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tem Cara Que Goza a Seco

Chovia quando cheguei à For Friends. No dia anterior, quarta-feira, a chuva tinha sido devastadora - todos estavam apreensivos - mas desta vez veio apenas uma chuvinha bastante corriqueira - leve e até simpática. Cheguei molhado, chupando um picolé de maracujá. Enquanto me despia, dois caras rodeavam. Um deles eu já conhecia, tinha ficado com ele havia uns meses. É um tipo de beleza sem vida: boa altura, corpo lindo (todo inflado de bomba, mas não dá pra negar que é um corpo e tanto), rosto cheio, de olhos azuis; um homem bonito. E só. A verdadeira beleza tem diversas camadas - é complexa, profunda, instiga e perturba. Pode conter até feiura. Ou loucura. Ou tristeza. E geralmente contém. E mesmo que esse cara não passasse muito de uma beleza vazia, fiquei com uma vontade de comer de novo... E tinha o outro: também musculoso (mas um corpo mais natural), usava barba, tinha pêlos bonitos no peito. E transbordava lascívia no olhar, no andar de fera enjaulada. Reclamou para o primeiro:

   -Que bosta de chuva, hein?

   -Fica aí, ô!

   -Não, preciso ir...

   Se foi, não sei; não mais o vi. Quem eu topava onde quer que eu fosse, era o bombado de olho azul. Nos encontramos finalmente no corredor da sala de vídeo do primeiro andar. De pé, ele assistia ao filme, pegando no pau, sobre a toalha. A bundinha estreita e arrebitada, os músculos peitorais volumosos, lisos, redondos. Que corpo! Olhou pra mim, sorrindo como bobo. Moveu-se para uma cabine do banheiro e eu o segui.

   Porta fechada, em silêncio sepulcral despem-se de suas toalhas. Um certo mal estar entre dois estranhos que não se falaram e estão prestes a invadirem-se mutuamente pelo impulso cego do desejo. E quando se tocam, tudo é simples e natural. As bocas se unem e vasculham pelos corpos aquelas sensações já conhecidas e sempre renovadas. Que bunda! Que bunda!! Que bunda!!!

   Comi, claro, e foi bom novamente, e passou, sem importância alguma além do momento em si. Acabei de tomar meu banho e desci pela escadaria da frente. Ao passar pelo vestiário, houve uma troca de olhares promissora. Eu o reconheci imediatamente: ator de televisão. Já o tinha visto no teatro também, completamente nu no palco, um corpo impressionante, uma voz extraordinária. Desde minha adolescência o acompanho de longe, e agora parecia tão ao meu alcance. Apesar do olhar interessado que me lançou, fiquei nervoso. Sentei próximo do vestiário. Queria confirmar o seu olhar. Mas demorava e demorava. Parecia haver algum problema: ele falava com os funcionários da casa (com certa intimidade), ia de lá pra cá. Fui dar mais uma geral na sauna. Até tinha uns caras razoavelmente interessantes. Na volta, passei pelo tal ator novamente. Vou chamá-lo pela inicial R. Estava parado no corredor que leva ao bar. Seu olhar era muito direto, seguro, penetrante. Quem ficou atrapalhado fui eu. Geralmente sou eu que encaro diretamente quem me interessa, e estes se fazem de desentendidos. Passei por ele, por esse olhar devorador e me fechei no banheiro. Fui mijar, mas fui também me esconder por um instante, do olhar que me invadia. Não que isso fosse desagradável, pelo contrário. Mas me senti fragilizado também, ansioso, inseguro. Na volta ele já não estava no mesmo lugar. Voltou a aparecer em 10 minutos, na ducha do primeiro andar, na frente da sauna. Nos olhamos outra vez e eu entrei na sauna. Veio logo atrás - sempre a mesma segurança no olhar, na postura. Sentou do meu lado e me tocou. Sem grosseria, sem forçar a barra. Nos beijamos. Eu mal podia acreditar em meus sentidos. Uma coisa parecida aconteceu na 269, anos atrás. Era também um ator, um homem lindo. Transamos (foi uma das melhores transas da minha vida) e eu só fui saber depois quem ele era, durante o nosso papo no bar. Ele não gostou de ser reconhecido (na época ele não era muito famoso) e me dispensou. Depois pensou melhor e quis um repeteco. Até hoje não acredito que dispensei uma segunda transa com aquela delícia. Mas voltemos a R e ao nosso beijo dentro da pequena sauna do primeiro andar. Atores sabem usar o corpo e as emoções, o olhar, a respiração, manter a calma, manter o jogo. Eu não sou ator - parei o beijo para secar meu rosto:

   -Tá muito quente aqui.

   -Vem, vamos sair.

   Tomamos uma ducha. Pedi que ele me aguardasse perto dos quartos, que eu ia buscar uma chave. Voltei um pouco trêmulo, nervoso. Quando fechei a porta, respirei mais aliviado - estava agora sozinho num quarto com R. Tirei lentamente a sua toalha. O corpo liso, ainda úmido, cintilava a luz do abajur. Costas largas, braços fortes, expunham cada fibra muscular, cada veia sob a pele fina. E as pernas, a bunda, o abdome - um puta corpo! Seu rosto também é muito interessante, tenso, de angulações nada óbvias e profundos olhos verdes.

   -Você curte o que? - quis logo saber.

   -Sou ativo. (Pausa) Geralmente... - completei. Se ele só quisesse me comer, acho que eu dava.

   -Gosta de foder? Como é seu nome?

   -Yuri.

   -Gosta de bunda, Yuri?

   Eu sorri timidamente. Fiquei bobo.

   -Gosto.

   -Tem que gostar mesmo. Meu nome é R.

   -Eu sei.

   -Sabe, é?

   -Sei, te vi na peça tal.

   -Ah é? Eu adorava fazer aquilo!

   -Era um espetáculo muito bonito mesmo.

   -Não era?

   Deitamos, nos beijamos muito. Beijei seu corpo, seu pau. Grandão, bonito. Tinha um acessório de borracha na base. Não entendi logo de cara:

   -O que é isto?

   -Hum... É um... (tentava encontrar o termo) um cock ring.

   Me explicou mais ou menos como funcionava e que achava que dava mais prazer. Levantei suas pernas e meti a língua no ânus. Ele se contorcia. Suas pernas abriram completamente no ar, em espacate.

   -Que língua gostosa! Vem aqui, quero chupar seu pau.

   Eu deitei no seu lugar, ele arrumou meu travesseiro.

   -Você é tão cheiroso, gato! Sua boca cheira gostoso, tem cheiro de beijo. Olha esta rola!

   O abajur iluminava de perto seu rosto engolindo meu pau. Os cabelos lisos, brilhantes, escorriam pela testa. Do nada, ele parou tudo, ajoelhou rápido na cama, a respiração presa, segurando o pau com uma das mãos e a outra espalmada em atitude de suspensão. Contrações corriam-lhe corpo de alto a baixo.

   -Você gozou?

   -Só um pouco.

   Eu não vi nada. Veio me beijar de novo:

   -Foi uma sorte te encontrar aqui hoje. Olhei por aí e só vi umas bichas de quinta.

   -Tem muito velho aqui...

   -Eu gosto até, às vezes me atrai. Mas, não sei, gente suja. Não gosto. Fui lá em cima, o cara com o pau sujo...

   -Tem uns caras sem noção.

   -Muito sem noção! Eu gosto de vir aqui, pegar um cara que nunca vi na vida. Me dá tesão, assim como estamos aqui, agora...

   -Você vem sempre?

   -Venho de vez em quando. Tenho um relacionamento - disse mostrando a aliança na mão esquerda.

   -Ah, sim... Mas...

   -Temos um acordo tácito. Estou com ele há muitos anos.

   -Ele sabe que você vem aqui?

   -Não, nem desconfia! Assim... ele é menos sexual que eu (pausa). Eu acho, não sei. Ele não é como eu, não tem a mesma necessidade, sabe?

   -Mas por que nunca falaram sobre isso?

   -Não precisa. Eu descobri super-por-acaso um rolo dele com um cara. Acho que foi só uma transa, nem sei. Sempre tive as minhas historinhas também. Ele não teve como negar (pausa). Mas negou... Foi chato, constrangedor. Acabamos nem conversando sobre isso direito. Nos damos muito bem, a gente se gosta, temos muito em comum, uma vida que construímos juntos.

   -Deve ser estranho.

   -O quê?

   -Sei lá, vocês não conversam sobre isso.. E conversar também seria estranho... Mas não é meio arriscado você vir aqui? Você é uma pessoa pública...

   -Ah não, nem penso nisso. Não sou tão famoso. Uma celebridade de segunda categoria. Fiz pouca Globo.

   -Digo, é mais fácil de chegar até ele uma história dessas.

   -Não ligo mesmo. E você, tem namorado também?

   -Não.

   -Sério? Só porque não quer.

   -Nunca tive.

   -O quê?

   -Namorado.

   - Como assim?

   -Nunca tive. Nunca rolou um lance mais sério. Ou mais longo.

   -Não acredito! Mas você nunca se apaixonou por ninguém?

   -Já, claro. Mas nunca foi recíproco. E de outra forma, não me interessa. Mas eu sou muito fechado, chato pra caramba...

   -Mas deve ter um monte de menino querendo namorar você.

   -Nem tem.

   Ficamos nos olhando um tempão; nos olhos, no fundo dos olhos. Olhar um desconhecido em silêncio, a um palmo de distância, pode ser constrangedor. Sempre é, na verdade. É  muito mais íntimo que apenas transar. Os dois estão expostos, desprotegidos. E é muito bonito e prazeroso também. Expôr-se e invadir o outro. Ele passou o dedo no contorno do meu rosto.

   -Que boca linda. Você é gato mesmo.

   -Ah vá... Valeu. Você também, seu corpo é incrível. Quantos anos você tem?

   -43.

   -Mentiraaaa!

   -Verdade. E você?

   -38.

   -Com essa cara de menino! Vem aqui. Lambe o meu cu de novo, daquele jeito que você me lambeu.

   Pus ele de quatro, de costas pro abajur. Era uma bunda linda, me deixou louco. Botei a camisinha e meti. Logo perdi a ereção. Meu pau é grosso, mas ele tem um relaxamento grande, e eu não sentia muito. Meti um dedo, dois.

   -Põe dois dedos em mim.

   Pus três, quatro. Achei que fosse fistar o cara. Passei lubrificante na mão. A ideia me excitou, mas não rolou. Nos excitamos mais e eu meti sem camisinha. Fizemos alguns movimentos e ele interrompeu.

   -Sem camisinha não pode, gato.

   Eu coloquei outra e meti. Perdi a ereção outra vez.

   -Com camisinha não tá rolando... que pena...

   -É, acontece comigo também às vezes. A gente perde a sensibilidade com a camisinha. Vem gozar em mim, quero no meu peito.

   Deitou na cama, eu fiquei por cima, ajoelhado, me masturbando. Ele gozou. Parecia seco de novo. Eu não consegui:

   -Eu tinha acabado de gozar quando te encontrei, não vai dar.

   -Você me fez gozar três vezes.

   Eu não vi uma gota de porra. Sei lá, tem cara que goza a seco. Conversamos mais, sobre artes, nossas atividades profissionais e nossas famílias. É um cara legal, simpático.

   -Devem ser mais de oito horas, né? - perguntou.

   -Será?!

   -É, tá pensando o quê? Vamos tomar um banho.

   No chuveiro ele me mostrou um sabonete que tinha trazido. Diz que tem pavor de pegar chatos na sauna e passar pro marido.

   -Nossa, que nojo!

   -É, imagina! Usa o sabonete também. Passa e deixa uns minutos.

   Depois do banho, fomos nos trocar. Ele pegou o meu telefone e deu um toque para eu ficar com o dele. Fiquei assistindo ele se vestir, passar seus cremes, um verdadeiro ritual de cuidados com a pele.

   -Eu não tenho essa paciência...

   -A minha pele é muito seca. Sem creme, ela repuxa, não dá.

   -Por isso que você está assim, podia dizer que tem dezoito anos a menos.

   -Eu, dezoito anos??

   -Dezoito a menos.

   -Ah!

   Saímos juntos. Sempre esqueço que lá não aceitam cartão de débito - só de crédito, que eu não uso. Eu não tinha o dinheiro todo na carteira e ele rachou a despesa do quarto comigo. Como era o dia do seu rodízio e ia pegar um táxi na esquina, ofereceu uma carona até o metrô. Sentamos atrás e ele ia me dizendo umas sacanagens, coisas como: "Você vai chupar o meu cu de novo?". O motorista olhava pelo retrovisor e eu fiquei com um pouco de vergonha. Fiquei excitado também. Nos despedimos com um beijo desencontrado e pensei que não fôssemos nos falar nunca mais. Mas ele ligou hoje. E amanhã tem mais.

Editado:
Nos encontramos perto do Centro Cultural São Paulo, onde fui ver uma exposição e ele me levou a um motel próximo. Pareceu bastante familiarizado com os funcionários, disse que sempre pedia o mesmo quarto (que era claro, impessoal e limpo). Havia um espelho grande recostado na parede em frente à cama. Ele gostou de ver por trás, pelo espelho, meu pau fodendo sua bunda. Broxei algumas vezes e não consegui gozar novamente. Eu estava deprimido ainda, dois anos após um acontecimento traumático. Ele não pareceu se incomodar muito. Depois que gozou, quis ir embora logo, tornou-se extremamente frio e prático, com alguns toques de superioridade. Fiz questão de pagar metade do valor do quarto. Ainda me perturbou um pouco com mensagens, parecia estar interessado em me manter como amante fixo, e, aterrorizado, fui dando um gelo. No ano seguinte, nos encontramos num evento social, ele ao lado do marido e de uma grande dama do teatro nacional, fiz a egípcia. Na última semana ele morreu, de uma forma muito triste, doente, jovem ainda, talentoso, subaproveitado, como a maioria dos talentos artísticos brasileiros. Se houver algo além da carne, desejo que fique bem, siga evoluindo, criando e sendo belo. Evoé

sábado, 3 de dezembro de 2011

Panturrilhas Poderosas


   E eu estava realmente ansioso para voltar à sauna nos últimos dias e sem conseguir tempo para isso (saudade da 269, que funcionava 24h!). Depois duma noite mal dormida, sentia-me fisicamente cansado, um pouco tenso - não exatamente excitado. Desci na estação Ana Rosa, parei no meio do caminho e me perguntei se era isso mesmo o que eu estava querendo: sexo anônimo? Não soube responder - que eu nunca sei. Mas fui. Tinha tempo e fui. Ia ver um show ali perto da For Friends às 21 h, resolvi chegar cedo, por volta das 15h15min.

   Logo de cara reparei, feliz, num cara que eu já conhecia da 269, um comissário alemão. Tínhamos ficado e conversado rapidamente, lembrava que ele voava eventualmente para SP e passava 2 ou 3 noites por aqui.  Fazia tempo isso, alguns anos, e com certeza ele não lembraria de mim. Às vezes vejo perfis dele numa dessas redes sociais, porém nunca mais havíamos nos falado. Um pouco mais gordo agora do que eu me lembrava do nosso primeiro encontro, mas continuava uma gostosura: cabelos castanhos claros, muito lisos e finos, de comprimento médio; pele clara, olhos verdes escuros, lábios carnudos de um vermelho vivo; calculo que 1,70 m de altura; fortinho, bunda fan-tás-ti-ca. Desta vez ele estava com o peito e a barriga sem depilar. O rosto é suave e tem alguma coisa de infantil. Não sei dizer o quê, talvez a expressão incomumente franca. Eu lembrava da nossa transa ter sido boa.  Reconheci logo que o vi passar, simpático - me abriu um largo sorriso e entrou na sauna úmida. Contive o impulso de correr atrás dele, provavelmente por insegurança.

   Tinha bastante gente na sauna para uma quarta-feira. Quase nada que me chamasse a atenção a essa hora. Dei uma rodada e avistei alguns outros conhecidos. Dentre eles, lá em cima, perto da sala de vídeo, um cara de barba com quem já tinha ficado recentemente. Agora sei que ele chama Flávio. Estatura mediana, aparenta mais de 40 anos (soube depois que tem 37, a minha idade), algumas tatuagens mal calculadas, pés esquisitos, mas dá pra dizer que tem um rosto muito bonito. Desta vez o achei menos em forma. Reparei que tinha cortado os cabelos também. Nos cumprimentamos com breves acenos e semi-sorrisos. Desci e entrei na sauna em busca do alemão. Para mim, tínhamos alguma pendência a resolver. A sauna úmida do térreo é grande, tem duas salas. No meio da segunda sala, consegui reconhece-lo numa cena confusa. Sentados nas bancadas azulejadas que circundam o ambiente, quatro ou cinco homens assistiam, imersos na nuvem esbranquiçada e sufocante do vapor, ao encontro de três caras: também sentado numa das bancadas, o maior deles, já senhor, de aparência extremamente desagradável, com bochechas e olhos caídos, muito alto, gordo e peludo, com um corte nos cabelos grisalhos que fazia lembrar uma ovelha. Na outra ponta, um moreno magrinho, feioso também, mas com corpo razoável e um pau enorme. Entre eles, o alemãozinho. Beijava a boca do moreno e oferecia a bunda ao velho, que a massageava com uma das mãos, enquanto se masturbava com a outra. Passei por eles e sentei próximo. Apresar de tudo, meu pau ficou rijo. O velho me encarava, oferecendo seu pau cor de tijolo. Eu não queria olhar pra ele, mas a feiura, quando muito grande, atrai o olhar involuntariamente. O alemão deu um preservativo pro moreno, virou de costas pra ele e começou a engolir o pau do velho. Assombrado, tive de sair dali correndo. Fui tomar sol no jardinzinho que serve como área para fumantes. Uma meia hora depois, os três ainda estavam se pegando, no chuveiro, e depois novamente na sauna. Sinto uma espécie de decepção quando vejo um cara que me atrai pegar gente feia. Como se alguém me devesse explicação sobre quem meu padrão estético caretinha rejeita.

   O cara de barba me seguia, com passos ou olhares. Fui pro escuro, sentei na sala de vídeo lá de baixo, no fundo, mais iluminada que as outras por conta da grande tela. Ele veio atrás, passou por mim e subiu ao andar superior. Voltou em minutos e sentou no mesmo sofá que eu, um pouco afastado. Nos olhávamos. Tirei o pau, já duro, por uma fresta da toalha e ele veio pro meu lado. Beijo gostoso, suave. Me chamou pra ir com ele. Nesse momento o alemão passa por nós e sobe para o escuro. Quase fui atrás dele, mas seria muito grosseiro. Ê, vida dura... O barbudo ia na frente, como se estivesse sozinho. Parece que essa é a regra na sauna: ou você anda na frente ou atrás do cara com quem você está, nunca do seu lado. Quando chegamos à nossa cabine do banheiro do primeiro andar, a mesma que usamos da outra vez, ele se mostrou mais delicado que no nosso primeiro encontro. Notei também que não usava mais a aliança dourada. Agachou pra chupar meu pau. Não o senti ansioso pra me comer como da outra vez. Ainda assim, virou meu corpo e lambeu minha bunda, desta vez com pressão agradável. Eu o levantei e virei de costas pra mim. Fiquei encochando o cara e percebi que ele estava à vontade. Pus meu pau ali e, como ele continuava tranquilo, forcei um pouco. Fui entrando, deslizando milímetros. Senti que estava decidido a dar pra mim, vesti a camisinha que havia posto sobre a mureta do banheiro, lubrifiquei com saliva e voltei a meter. Ele pediu pra parar um pouco, pra ir com calma, mas até que não foi difícil. E depois que se acostumou, fodi com força. Geralmente tenho dificuldade pra gozar na penetração, mas rolou até o fim.

   -Dois a dois. Da próxima vez eu desempato - disse, provavelmente se referindo aos nossos dois encontros. Mas não entendi a conta: da primeira vez ninguém comeu, ninguém deu. Dessa vez eu o comi. Não seria 1X0? Por que 2X2? Eu não entendi mesmo... Talvez fosse sobre outra coisa qualquer que fosse evidente apenas para ele.

   Tirei a camisinha, joguei no lixo e ele se limpou.

   -Vamos tomar uma ducha, sugeri.

   -Com voce, eu namoraria - disse, meditativo.

   Esse cara tem essa mania de me lançar essas frases de efeito. Fiquei sem saber o que responder. Sorri simplesmente. Conversamos mais um pouco durante o banho. Parece ser um cara legal.

   Acabado o banho, me passou seu contato do MSN e nos separamos. Quando desci, tinha um ator famoso na sauna. Um  ator de alto nível, aliás. Nunca o achei atraente, mas também nunca suspeitei que ele tivesse um corpo tão gostoso. Não sou muito de ver TV e sempre o tive como um homem pequeno, magricelo. Já o tinha visto no teatro, muitos anos atrás, e realmente estes anos fizeram muito bem a ele. Parecia impaciente, andava pra lá e pra cá, medindo todo mundo de forma ostensiva.

    Fui atrás do alemão, que continuava dando sopa lá em cima, no escuro. A aproximação foi simples e rápida. Como sempre, em poucos minutos fomos juntos para o banheiro claro do andar superior lá da frente. Ele é todo gostosinho, supersimpático, olhar doce, sorriso adorável. A bunda parece um sonho, mas poucos minutos depois da penetração, eu falhei. Tinha gozado fazia pouco tempo e acho que estava um pouco tenso. Ficamos ainda um tempão ali, trocando carinhos. Ele foi muito fofo, nos beijamos muito e conversamos um pouco. Bem pouco, que ele não é de muito papo, nem eu. Tentamos a penetração mais uma vez, mas não ia rolar, logo eu perdia a ereção. De qualquer forma foi agradável, ele tem uma das peles mais macias em que já toquei e disfarçava tão bem que nem parecia estar decepcionado com a minha brochada. Tão bem que nem eu fiquei chateado. Não lembro direito, mas acho que o nome dele é Frederick.

   Ainda tive mais um encontro nessa noite. Lá pelas tantas apareceu um cara bem interessante, um tipo nada comum nesses lugares. Alto, corpo magro mas musculoso, moreno, com alguns pelos, barba curtinha bem escura, jeito de moleque, másculo. Me lembrou o gostosinho do Bento Ribeiro da MTV. Logo que o vi, me interessei; ele também. Nos cruzamos algumas vezes até que eu recuperasse o fôlego. Ficamos sentados na mesma sala durante um tempo, a uma distância de uns 7 metros. Cumprimentou o ator e o Flávio, conversaram um pouco. Eu o observava, curioso. Mais tarde eu vinha saindo da parte escura, pela milésima vez, onde não encontrei nada que prestasse, e nos cruzamos, bem na saída; eu saindo, ele entrando. Passamos um pelo outro, nos olhando, ambos nos viramos para trás. Dei meia volta, fui atrás dele. Subimos pro andar superior, ele na frente, eu atrás. Entrou numa das salas e encostou na parede. Parei na sua frente e nos beijamos. Tentamos usar o banheiro daquela área mesmo, mas estava com um cheiro bem desagradável.

   Corta. Já estamos no banheiro iluminado, limpinho e espaçoso. Já estamos sem nossas toalhas e nos pegamos furiosamente. Ele gostava de uma pegada mais pesada. Não parecia passivo, mas logo vi que ia rolar. Seu corpo era muito bonito, definido, pernas musculosas, panturrilhas poderosas, redondas. Um cara muito charmoso, desencanadão. E beijava bem. O pau não era grande, mas bonito, a cabecinha era uma perfeição, parecia até de plástico, de tão lisinha. A gente se chupou bastante e depois pus a camisinha e fodi gostoso. Delirava quando eu usava força, quando o mordia. E adorou quando segurei firme sua cintura. Agarrou minhas mãos e ficou rebolando no meu pau de uma forma muito máscula e excitante. Gozei de novo, dentro dele. Tomamos um banho e descemos para conversar perto do jardim. Chama Heitor, tem 40 anos e aparenta bem menos. O jeito desencanado escondia um rapaz bastante vaidoso, que adora falar de si. Ainda assim, simpático. Conversamos bastante, temos interesses em comum. É artista, professor na USP, empresário. Casado com um cara, moram numa chácara fora de São Paulo. De que é casado, eu já havia suspeitado pela conversa, comprovei depois pelo Facebook. Conversamos por mais de uma hora, e rimos bastante. Apareceu um cara muito bonitão, passava por nós, de olho em mim, sedutor. Eu já estava pensando em dispensar o Heitor, mas não tinha como. Fui ver as horas, eu tinha compromisso naquela noite ainda, e ele também.

   -Quase oito já! Daqui a pouco tenho de ir, vou ver um show aqui perto.

   -De quem?

   -Tânia Maria. Cantora e pianista brasileira que mora na França há muitos anos.

   -Sei, da turma do jazz... - disse com certa ironia.

   -É! Um grande talento...

   -Dá tempo de dar mais uma subidinha com voce, hein!?

   Eu não estava mais animado, talvez por já estar de olho no outro carinha que chegou, mas concordei. Fomos ao armário dele pegar outra camisinha e ali meu pau já estava durão, saltando da toalha e me deixando sem graça perante os funcionários da casa. Subimos e foi ótimo outra vez. Sem fazer nada, ele me excitava. Gozei com loucura. Estávamos nos recompondo quando encostei a perna na lixeira e senti umidade. Tinha uma camisinha pendurada na boca da lixeira, cheia de porra, e encostou em mim.  

   -Que nojo, preciso lavar isto rápido.

   Ele ria, sádico.

   Corri para a ducha, saía pouca água mas consegui me lavar. Quando ele chegou, já não saia mais água dos chuveiros. Havia gente reclamando com um funcionário que tentava explicar. Eu não entendo lhufas de hidráulica, portanto nem sei reproduzir suas desculpas.  O Heitor ficou puto e foi tentar tomar banho lá embaixo - também em vão. Resolveu ir embora. Despediu-se friamente:

   -Foi um prazerzão.

   -Um prazer duplo. Mútuo, tentei melhorar.

   Mesmo tendo acabado de gozar, fui correndo procurar o bonitão que tantas vezes havia passado olhando e sorrindo pra mim enquanto eu conversava com o Heitor. Eu ainda tinha uma meia hora disponível e dava pelo menos pra falar com ele, quiçá dar uns beijos.

   Mal comecei a andar, ouvi uma voz atrás de mim:

   -E aí rapaz.

   Ouvi baixinho, repetidas vezes, até me voltar. Era o próprio. Fui até ele e nos cumprimentamos. Era bonito realmente: alto, forte, pele clara sem pêlos, cabelos escuros, sorriso e nariz lindos. Marcelo. Ou melhor: Marrrcéaalu.

   -Carioca? - perguntei.

   -Tão rápido?!

   -Sou bom nisso.

   Disse estar na cidade apenas aquele dia, para uma conferência, se não me engano.

   Em poucos minutos se despediu.

   -Vou dar uma volta ae.

   Então tá, né... Não sei o que o decepcionou tanto. Dei mais um beijinho no comissário alemão, que ainda estava lá em cima, na batalha, e fui-me embora, que o show ia começar.