segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Uma Chupeta

Faz alguns anos que isso aconteceu. Era tarde da noite e eu estava voltando de São Paulo. Tinha descido do ônibus perto da minha rua e caminhava para casa, cansado de um dia de aulas, compras, muita correria. Chegando na esquina de casa, a menos de 30 metros do meu portão, percebi um carro negro de vidros filmados desacelerar e me acompanhar. Fiquei com medo, claro. A janela abaixou e o motorista me abordou com voz tímida. "Moço, por favor". Eu sentia que ele tinha medo de falar. "Sabe onde eu consigo..." Pensei que estava procurando droga. "Você conhece algum lugar por aqui onde eu possa fazer uma chupeta agora?" Uma chupeta. Talvez usasse esse termo pra se safar caso minha reação fosse ruim. Alegaria que o carro estava sem bateria. Talvez. Mas a minha reação foi surpreendentemente boa até para mim mesmo. "Vamos lá", eu disse, abrindo a porta e entrando no carro de um estranho. Ele também ficou bastante  surpreso. Era um homem comum, acho que tinha 28 anos na época. Loiro, barba rala, baixo, um pouco acima do peso, bem mauricinho. Não era feio, mas estava longe de ser alguém atraente. Entrei no carro pela aventura, pela surpresa do que me pareceu uma oportunidade divertida de sexo. Também pela situação constrangedora e triste em que vi o rapaz. Já fiz algo assim na minha adolescência. Devia ter menos de 18 anos e saí pelos bairros da cidade onde morava na época determinado a ter uma primeira experiência sexual. Eu não conhecia ninguém, vivia reprimido e sofria abuso sexual dentro de casa. A vida era dor, e eu queria que fosse mais.  Tinha todo o direito de querer mais. Só não tinha a menor idéia de como encontrar um ponto de virada. Passaram-se 20 anos e ainda não sei. Saí andando a esmo por horas sob o sol até avistar numa casinha azul, bem interiorana, um moço bonito carregando alguns tijolos. Ele estava sem camisa, de calça jeans baixa e surrada. Tinha os longos cabelos castanhos meio empoeirados pela obra. Corpo lindo, bem definido e bronzeado, pêlos no peito, traços finos e sobrancelhas espessas. Lembro nitidamente da sua aparência até hoje, embora só o tenha revisto, de relance, uma única vez, na mesma época. O desejo me dizia que ele era "o cara", e agora? Como notou que eu olhava, cumprimentou. Tremendo de medo e aflição, perguntei se era ali a casa da Débora. Débora Bloch era minha atriz favorita na época. Respondeu que não e tentou me ajudar a localizar a casa da minha "amiga". Fui embora quase flutuando de nervoso. Mas, feito o primeiro contato, não podia desperdiçar a investida. Parei numa sombra na rua de baixo, respirei, e voltei. Desta vez eu precisava ser definitivo. "Te ganhar ou perder sem engano". Entrei novamente no quintal tomado de material de construção e entulho. Ele estava com uma pá mexendo na terra ou cimento. Cheguei bem perto e perguntei. Eh... Posso chupar o seu pau? Foi o que consegui articular na época. E ninguém pode me acusar de não ter sido direto como intencionava. Engraçado que o rapaz não pareceu muito surpreso ou contrariado. Disse simplesmente que não podia, que estava trabalhando. Ainda insisti. Horrivelmente. Nunca faça isso diante de uma negativa!
-É rápido, vamos naquele banheiro ali.
Era uma porta entreaberta no quintal. Ele olhou pra onde eu indiquei e disse que não ia rolar, que tinha a dona da casa. Comecei a ouvir ruídos de cozinha e saí correndo. Voltei pra casa nervoso e toquei uma punheta pensando nessa história, lembrando de ter falado "posso chupar o seu pau?" pra um moço bonito, pensando no seu corpo e que ele só não aceitou porque estava trabalhando e a situação não contribuía. Por incrível que possa parecer, toda essa história de quase 20 anos antes me fez entrar no carro do carinha que queria fazer uma "chupeta". Ele estranhou a naturalidade com que agi. Então é assim?! Vamos lá?! Fácil assim?! Ele perguntava, chato pra caralho. Acho que o nome dele era Mário, ou talvez Mauro, advogado, filho único de um casal idoso. Perguntou se o carro estava cheirando a pizza, porque a pizza dos pais estava no porta-malas. Tinha saído pra comer com amigos do tempo de escola e me pareceu deprimido com esse reencontro. Fiquei imaginando que ele reviu um crush antigo e ficou mal, mexido. A rua estava bem deserta e paramos um pouco mais pra frente. Perguntou de onde eu era, achou que era forasteiro por causa da mochila cheia. Me abordou só por pensar que eu estava na cidade de passagem... Contou que era noivo. Uma vidinha de merda como a de todo mundo. Quis beijar, encheu minha bola e pediu pra pegar no meu pau. Tirei pra fora e ele chupou rapidamente, sem muito jeito. Achou meu pau grande e bonito. Como apareceu gente na rua, fomos pra uma mais tranquila. A polícia apareceu. Fomos pra outra e um mendigo começou a gritar. Tentamos uma última. Estávamos tensos. Minha mãe ligou perguntando por que eu ainda não tinha chegado. Ali estava tranquilo e chupou com mais calma e elogiou até a baba do meu pau.  Pediu  que o chupasse também. Era um pau pequeno e bem fino. Lembro que depois que estávamos ali um tempo, o carro da frente acendeu o farol bem alto na nossa cara e saiu disparado. Depois ele me levou pra casa, passou seu celular e foi embora. Nunca mais nos falamos. Lembro de tê-lo visto no shopping pouco tempo depois com, suponho, a noiva e seus pais.



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